Search

Alegria, Amor e Liberdade – Atributos da Mente

Por Gabriel Mallet Meissner. São Paulo, 19 de Fevereiro de 2006. Revisado em 18 de Março de 2007.

A natureza da mente é meditação, diz Tarthang Tulku. Três energias que emergem espontaneamente da meditação são a Alegria, o Amor e a Liberdade. Daí que Alegria, Amor e Liberdade são atributos naturais da mente e de nós mesmos. O que contraria estes três atributos é anti-natural, uma violência contra nós mesmos. Se nos tornamos tristes e deprimidos, se odiamos e sentimos rancor, se nos sentimos presos, restringidos, não nos encontramos em nosso estado natural, estamos doentes e precisamos de um remédio.

Este remédio está dentro de nós mesmos e podemos tomá-lo apenas através de caminhos de introspecção, da observação de nós mesmos. A meditação é um destes meios. É um caminho de transformação e ajuda a transformar a Depressão em Alegria, Ódio em Amor e Restrição em Liberdade.

Estes atributos (Depressão/Alegria, Ódio/Amor, Restrição/Liberdade) encontram-se em nós, não no mundo. O que vemos no mundo é um reflexo do que há em nossa mente. O mundo é o espelho da mente. Se queremos um mundo pacífico, devemos ser pacíficos. Se formos conflituosos interiormente, criaremos um mundo de conflitos. Temos responsabilidade pelo mundo e esta responsabilidade começa dentro de nossa mente. Temos de encarar este fato. Não há outro meio.

A Alegria que emerge da introspecção é uma Alegria sem causa. Ou melhor, ela é a causa de si mesma. Não estamos acostumados com isso. Aprendemos que toda alegria deve ter uma causa. Um novo amor, uma promoção no emprego, um elogio vindo de alguém que admiramos. Isto está errado. Se acreditarmos que nossa Alegria depende de fatores externos, ela será sempre transitória. Perca o emprego aonde antes foi promovido e perderá também a sua Alegria. Não é preciso que seja assim. E não será quando descobrirmos que a fonte de onde a Alegria surge localiza-se na mente e é auto-causativa. A Alegria está sempre disponível, não importando as circunstâncias em que nos encontramos.

O mesmo podemos dizer sobre o Amor e a Liberdade.

O Amor, em sua forma mais pura, não tem causa, não é condicionado. O Amor condicionado ainda é Amor, mas não é mais puro. Também não estamos acostumados a isso. Também aprendemos que deve ter uma causa. Que deve surgir da admiração por alguém e do bem que este alguém nos faz. Não é assim. A fonte do Amor também está dentro de nós e se torna disponível a quem observa e penetra em sua mente através da meditação. Quando isso ocorre, surge uma qualidade de Amor em nós que nunca imaginaríamos que sentiríamos. O Amor pelo criminoso que nos assaltou e humilhou ou pela barata que encontramos na cozinha e matamos. Pode-nos surgir também outras espécies mais extravagantes de Amor, como o Amor pelos nossos pais. Pois muitas vezes é mais fácil amar um estranho do que aqueles que nos deram a vida. Afinal, o estranho nunca nos desafiou, decepcionou, feriu ou exigiu nada de nós. Ao passo que nossos pais, nossos irmãos, amigos, cônjuges o fizeram e o fazem constantemente. É difícil amá-los plenamente, pois estamos acostumados a sentir somente o Amor condicionado. Se as condições que egoistamente determinamos para que o Amor seja possível não forem satisfeitas, não o sentiremos. Que situação triste! Como podemos estabelecer condições para o Amor seja possível? Como podemos querer que algo tão bom esteja restringido apenas a situações muito especiais, apenas àquelas que satisfazem nossos caprichos, e não a todo instante? Isso é muito triste.

Se determinarmos que o Amor seja possível apenas se as condições que determinamos forem satisfeitas, nunca o sentiremos em sua plenitude, pois nossas condições e caprichos nunca são satisfeitos como gostaríamos. Vale mais a pena renunciar a estas condições e caprichos e torná-lo disponível a nós mesmos em sua plenitude todo o tempo do que nos agarrarmos, como o fazemos, a elas e nos contentarmos com uma sombra pálida do que o Amor pode ser.

Chegamos então à Liberdade, outro atributo natural de nossa mente. Igualmente à Alegria e ao Amor, fomos ensinados que nossa Liberdade depende dos outros, depende do mundo. Ainda é tempo de aprender que não somos livres em função dos outros, mas em função de nós mesmos. Isto é difícil de entender, mas mesmo encarcerados em uma penitenciária, ou vivendo sob uma ditadura, podemos ser livres. Enquanto que, vivendo livremente em nossas casas e sob a democracia, somos prisioneiros de nós mesmos. Assim, a Liberdade não é um bem ou estado alcançado por uma luta contra o mundo repressor, mas pela renúncia aos condicionamentos que o mundo nos deixou. Sejamos livres, apesar de nós mesmos.

O mundo nos deixa marcas e estas marcas transformam-se em condicionamentos. Podemos culpar o mundo pelas feridas que sofrermos se esquecermos que temos um papel ativo da aceitação destas feridas. Na realidade, o mundo (e as pessoas que nele vivem) não nos ferem. Nós é que nos ferimos ao nos decepcionar com o mundo. Dizia Rabindranath Tagore que “lemos mal o mundo e dizemos que ele nos decepciona.” A ferida é sempre auto-infligida. Temos que ser responsáveis e encarar isso.

Apenas nos decepcionamos com o mundo porque criamos expectativas e queremos que elas sejam satisfeitas. Quando isso não acontece, como é freqüente, ferimos a nós mesmos e criamos condicionamentos e defesas. Acreditamos que estas defesas nós as criamos contra o mundo. Na realidade, criamos defesas contra nós mesmo, contra o nosso senso de responsabilidade. Quanto mais defesas tivermos, menos responsabilidade nos sentiremos obrigados a ter e mais culpa sobre o mundo jogaremos. Nesta situação é que somos escravos de nós mesmos.

Mas a Liberdade, tal qual a Alegria e o Amor, não são causadas por fatores externos. A Liberdade é a sua própria causa. E ela brota quando a mente se torna tranqüila e, naturalmente, despe-se de seus condicionamentos e, principalmente das causas destes, as expectativas. Uma mente livre é uma mente sem expectativas, uma mente que não procura ler o mundo através do filtro do ego e seus caprichos.

O vital a apreender de tudo isso é que a Alegria, o Amor e a Liberdade são causas de si mesmos, são atributos naturais da meditação e de nossa mente, uma vez que a meditação é o estado natural da mente. E que podemos deixar de projetá-los para o mundo, como fomos ensinados a fazer, e encontrá-los, nutri-los e deixá-los nutrir-nos em nosso interior.

Como a vida se torna mais colorida quando isso acontece!

Sobre o autor: Gabriel Meissner é Mestre de Reiki e ministra cursos na cidade de São Paulo. É também terapeuta floral, autor de artigos sobre terapias holísticas e espiritualidade e pesquisador de tradições espirituais do ocidente e do oriente. Entre em contato: gabriel.meissner@gmail.com.

0 comentários: