Das religiões orientais, o budismo é uma das que mais tem contribuído para o entendimento da mente, do sofrimento e da busca da felicidade. Por este motivo, a psicologia budista tem sido cada vez estudada inclusive por psicólogos ocidentais, especialmente pela psicologia transpessoal.
Um dos conceitos mais interessantes da psicologia budista são os 10 Mundos. Os 10 mundos resumem os 10 estados mentais que uma pessoa pode experimentar na vida, como sensações subjetivas que resultam do choque do ego com os acontecimentos da vida. O estudo dos dez mundos amplia a compressão que temos de nós mesmos e de nossa busca por crescimento interior.
Todos os 10 estados possuem o seu lado positivo e negativo, com exceção do Estado de Buda, o único exclusivamente positivo. Podemos vivê-los todos no curso de nossas vidas – e mesmo no decorrer de um único dia – em ambos os lados.
A seguir, cada um deles está explicado resumidamente.
Inferno
Este é o estado da miséria e do sofrimento. Predominam sentimentos de medo, pesar, raiva destrutiva ou depressão. Sofrimento e desespero extremos. O indivíduo sente-se preso às circunstâncias de sua vida. O impulso de raiva traz destruição para si mesmo e para os seus semelhantes.
O lado positivo deste estado é o de que, uma vez tendo vivido nele, esta experiência sustenta um desejo de melhorar as suas condições de vida, interiores e exteriores. Como resultado, surge a empatia, ou a compressão do sofrimento dos outros.
Fome
Aqui, o indivíduo é dominado pelos seus desejos e paixões, físicos ou mentais. São desejos egoístas e ilimitados de riqueza, fama e prazer, que nunca se consegue saciar. Provavelmente, dos 10 estados, é o mais estimulado pela nossa cultura ocidental consumista.
No seu aspecto positivo, o estado de fome é a motivação que temos para melhorar uma situação. É a motivação de pessoas que, como Gandhi, lutaram durante anos sem esmorecer pela realização de um projeto de paz.
Animalidade
O mundo da animalidade é aquele em o comportamento se torna puramente instintivo, faltando o uso da razão, sem a sabedoria para controlar a si mesmo. Neste estado, temem-se aqueles que parecem mais fortes e abusam-se dos que parecem mais fracos. É “a lei da selva.”
O lado positivo deste estado são os instintos de proteção e preservação de si mesmo e dos outros.
Ira
Sensação de ser superior aos outros e desejo de demonstrar esta superioridade. Há agressividade e conflito com os outros. É um estado egóico em que só se consegue olhar para si mesmo, sendo auto-centrado e auto-referente.
Quando positivo, neste estado há a ira contra a injustiça, a paixão e a motivação de lutar contra comportamentos autoritários. Novamente, um bom exemplo aqui é Gandhi, assim como Martin Luther King e outros grandes líderes que figuraram pela luta contra a injustiça.
Tranqüilidade
Constante inatividade, preguiça e passividade. Não há vontade para se concretizar projetos e cumprir com suas tarefas.
No lado positivo, ao invés de passivos, estamos em paz, calmos e razoáveis. Aproveitamos este estado para restaurar as nossas energias, o que diversas vezes é necessário para que se volte à atividade produtiva.
Alegria
É a condição de contentamento e alegria que se sente quando nos libertamos de um sofrimento ou satisfazemos algum desejo. É um sentimento fugaz, que acaba rapidamente e, ao acabar, transforma-se com facilidade no estado de inferno ou fome.
Olhando o lado positivo deste mundo, precisamos dele, de suas felicidades impermanentes e fugazes, pois são necessárias ao nosso equilíbrio psíquico. Porém, o apego a estas experiências levará à imaturidade e ao desapego. Pessoas viciadas em drogas estão permanentemente à busca de prazeres fugazes.
Os primeiros seis estados, ou mundos, do Inferno à Alegria, caracterizam-se por impulsos ou desejos e são muito vulneráveis às inconstâncias da vida. Eles podem ser vividos por todas as pessoas sem qualquer esforço. De fato, sem esforço pelo seu auto-desenvolvimento, estes são os únicos estados em que uma pessoa pode viver, alternando entre um e outro.
Já os próximos 4 estados de vida, não são tão vulneráveis à impermanência e, portanto, à infelicidade. Porém, eles exigem esforço para serem vividos. Esforço pelo auto-conhecimento e pelo desenvolvimento interior, o que requer paciência, tenacidade e concentração.
Erudição
Aqui, o indivíduo busca o aprendizado sobre si mesmo e sobre a vida, através do estudo com professores e com o conhecimento já existente no mundo. Empenha-se em conquistar um estado de contentamento e estabilidade duradoura por meio da auto-reforma e do desenvolvimento.
Embora primordialmente positivo, também pode levar ao auto-centramento e à separação dos outros.
Absorção
Diferentemente do estado de erudição, no estado de absorção o empenho pela auto-reforma não se dá através do estudo das realizações de seus predecessores. Ao contrário, a sabedoria é obtida através de suas próprias observações e experiências, que levam ao entendimento de um aspecto da vida.
Novamente, este estado pode levar ao auto-centramento e à tendência de usar o intelecto, mais do que a sabedoria, para resolver problemas.
Boddhisatva
Neste contexto, Boddhisatva significa uma pessoa que busca a iluminação para si mesmo e para os outros.
No aspecto positivo, há devoção pela felicidade dos outros. Um exemplo notório do lado positivo deste estado é a Madre Tereza de Calcutá.
Porém, facilmente este estado pode se converter em arrogância no caso das pessoas que se sentem superiores àqueles que ajudam e que tentam ajudar sem prestar atenção às reais necessidades das pessoas ajudadas. É comum notar este estado em muitos que decidem trabalhar voluntariamente com caridade.
Buda
Neste estado, a pessoa despertou para a verdadeira natureza da vida e vivencia felicidade e liberdade ilimitadas. Sua alegria é indestrutível, sua sabedoria ilimitada, bem como sua coragem, compaixão, criatividade e força vital.
Este estado é o único que só pode ser vivenciado positivamente e sua função é fazer emergir o lado positivo dos outros nove mundos.
Acredito ser razoável relacionar estes 10 estados de vida, de acordo com o budismo, com os Cinco Princípios do Reiki, mesmo porque o fundador do Reiki, Mikao Usui, era monge budista. De certa forma, viver os Cinco Princípios é um caminho para se elevar o próprio Estado de Buda, o qual, como se disse, faz emergir o lado positivo dos outros estados.
Quer estejamos trabalhando com o conceito de 10 mundos, quer estejamos trabalhando em seguir os 5 Princípios, ambos os trabalhos exigem de nós esforço, paciência e, principalmente, auto-observação. Esta auto-observação, que pode ser impulsionada pela prática da meditação, pela psicoterapia e por qualquer outra forma de interiorização, é sempre a responsável pelo crescimento interior. É preciso aprender a ver a vida de dentro para fora se quisermos nos tornar indivíduos conscientes e manifestar todo o potencial que carregamos dentro de nós desde que nascemos.
Que a sua vida seja repleta de esforço pelo auto-conhecimento, desenvolvimento pessoal e felicidade!
Artigos Relacionados
Os Cinco Princípios do Reiki, por Frank Arjava Petter
0 comentários:
Postar um comentário