Março/2004
O trabalho espiritual é o trabalho de harmonização e desenvolvimento de nosso ser como um todo. De corrigir o uso errado que fazemos de nossas faculdades e de desenvolvê-las até o máximo de seu potencial. Um trabalho desta característica não pode negligenciar parte alguma do nosso ser. São duas opções as que temos: ou o fazemos de forma completa ou não o fazemos. Este artigo é dedicado a mostrar um dos motivos pelos quais é assim: o relacionamento íntimo entre espiritualidade e psicologia e sobre como não podemos esquecer a última para trabalhar somente a primeira.
Nós, que nos dedicamos à espiritualidade, é comum buscarmos rapidamente as alturas do Espírito, dando pouca importância à nossa Personalidade. Porém, um estudo e uma percepção mais aguçada, que vai surgindo conforme vamos tentando trilhar o caminho desta forma, nos mostra que não conseguimos chegar ao Espírito sem passar pela Personalidade. Apenas nos resolvendo no imanente podemos almejar o transcendente. Ou, para viver o sagrado, precisamos viver antes o profano em sua plenitude.
Segundo a ocultista e psicóloga inglesa Dion Fortune (1890-1946), poderíamos dividir nosso ser em três partes, nesta ordem: Corpo – Personalidade (Alma) – Espírito (1). Nossa Consciência encontra-se encerrada no Corpo. No trabalho espiritual, tentamos elevá-la às alturas do Espírito. Mas o esquema acima mostra que a Personalidade encontra-se no meio caminho entre o Corpo e o Espírito. Não apenas é a ponte entre a Consciência e o Eu Superior (que encerra-se no Espírito), como também age como um filtro.
A Personalidade filtra a experiência que desce do Espírito para o Corpo/Consciência. Se o filtro estiver sujo, a experiência do Espírito chegará à Consciência deturpada, ocasionando desequilíbrios em nosso ser. Dizer que o filtro está sujo quer dizer que a Personalidade está desequilibrada. Ora, desequilíbrios na Personalidade, todos temos, em maior ou menos escala. Daí a importância de trabalharmos psicologicamente para podermos trabalhar espiritualmente. Das condições da nossa Personalidade é que dependem se a experiência espiritual virá para nos redimir ou para nos condenar (quantos de nós não conhecem pessoas que, ao se dedicarem à espiritualidade, ficaram piores do que estavam, ao invés de melhores?).
Sendo o trabalho psicológico tão fundamental para o trabalho espiritual, penso que escapar do primeiro é, na realidade, fugir do segundo. É iludir-se com nada além de sombras do que realmente seja espiritualidade. Falando de experiência pessoal, o que tenho percebido é que, se não trabalho psicologicamente, os resultados que obtenho com o trabalho espiritual são falsos resultados. Enquanto que se o faço o trabalho psicológico, isto me abre portas no espiritual.
Todo trauma, mágoa etc que carreguemos em nossa Alma/Personalidade representa uma porta fechada a nós mesmos no reino espiritual. Porta que apenas se abrirá quando for resolvida por nós mesmos. Portanto, escapar ao trabalho psicológico não apenas gera, cedo ou tarde, maus resultados no trabalho espiritual, como, na realidade, impede que obtenhamos resultados reais.
Isto não quer dizer que não possamos nos dedicar à Espiritualidade enquanto não estivermos completamente resolvidos psicologicamente (seria muito utópico). Mas que o trabalho psicológico e o espiritual devem se dar paralelamente. O trabalho espiritual sempre auxilia o espiritual. O espiritual, se levar em conta o trabalho psicológico, também pode ajudá-lo. Então, a pergunta que sempre devemos nos fazer é: "o trabalho espiritual que faço está me ajudando a me resolver psicologicamente ou está me fazendo fugir dele?" A resposta desta pergunta determina se estamos trilhando nosso caminho corretamente. Ou, se este é um "caminho com coração" (2).
Como uma vez me respondeu um amigo a quem consultei em um período de confusão, dizendo que não sabia se o que eu fazia no trabalho espiritual era o certo ou o errado: "É simples: se a sua vida vai bem, você está fazendo o certo. Se vai mal, está fazendo o errado." Assim, o melhor parâmetro de avaliarmos os resultados tanto do nosso trabalho psicológico, quanto do espiritual é a vida diária.
(1) Aos junguianos que lerem este artigo, aviso que os termos "alma" e "espírito" não estão sendo usados aqui no sentido que Jung lhe deu, mas em um sentido inspirado pela obra de Dion Fortune.
(2) Carlos Castaneda, A Erva do Diabo, Editora Record.
Sobre o autor: Gabriel Meissner é Mestre de Reiki e ministra cursos na cidade de São Paulo. É também terapeuta floral, autor de artigos sobre terapias holísticas e espiritualidade e pesquisador de tradições espirituais do ocidente e do oriente. Entre em contato: gabriel.meissner@gmail.com.Adquira o livro A Erva do Diabo, de Carlos Castaneda.
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