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Desapego aos Mestres

Por Gabriel Mallet Meissner

São Paulo, 01/09/04

Em toda tradição espiritual aprendemos que devemos honrar nossos mestres, aqueles que nos ensinaram e se dedicaram a nós, dando-nos um norte e sem os quais talvez estivéssemos como barcos à deriva. Igualmente importante, porém, é aprendermos a nos desapegar de nossos mestres.

Quando procuramos alguém para aprendermos a trilhar nosso caminho espiritual o fazemos porque vemos refletido nesta pessoa uma necessidade interna nossa que ela pode ajudar a satisfazer. Um ensinamento que necessitamos aprender e que, como ela já aprendeu, pode nos passar. E nós então só teremos a ganhar aprendendo com ela.

Ao mesmo tempo, nosso mestre constitui uma individualidade própria e única, assim como nós constituímos outra. E muito daquilo que ele nos ensinará será fruto de sua própria experiência de vida, adequado somente à sua própria história pessoal. No processo de aprendizado com este mestre, é natural que ele use sua história pessoal para nos ensinar. Mesmo que ele não a use como exemplo, sua história pessoal molda seus conceitos e a maneira de passá-lo adiante.

Dessa forma, enquanto aprendemos com ele algo que nos é valioso e que corresponde a um potencial genuinamente nosso e que apenas precisa deste ensinamento para se desenvolver, absorvemos também particularidades que são únicas dele. Estas particularidades passam a se agregar em nosso ser e o confundimos com algo que é natural a nós.

Ora, para nos aprofundarmos em nosso caminho espiritual precisamos conservar e aumentar nossa energia interna, nosso poder pessoal. Nossos contatos no plano espiritual, nossa harmonia com todas nossas relações dependem disso. E um processo importante de nosso aprendizado é nos tornarmos conscientes do quê em nossa vida rouba nossa energia e do quê a estimula.

É facilmente notado que tudo aquilo que vem do exterior e reflete com algo que temos genuinamente no nosso interior estimula, aumenta nossa energia e nos faz progredir em nosso caminho. Por outro lado, é igualmente notado que aquilo que vem do exterior e não reflete com algo genuinamente nosso, rouba nossa energia.

Daí vem a necessidade de nos desapegarmos de nossos mestres. Em um primeiro momento, eles nos ensinam algo de valioso e sem o qual não conseguimos progredir. Porém, o preço deste aprendizado é absorver particularidades suas que roubam nosso poder pessoal e acabam por impedir que progridamos ainda mais além.

Por isso torna-se importante, de tempos em tempos, passar em revista o que aprendemos com nossos antigos mestres e notar o que deles recebemos é genuinamente nosso e o que não é. Notado aquilo que não for, é preciso esforçar-se para desapegar-se de antigas noções que nos foram passadas que podem servir para o desenvolvimento de nosso mestre, mas impede o nosso. Pois o caminho espiritual é um caminho de morte e renascimento contínuos e matar nossos mestre é uma parte deste processo.

Termino este artigo com a citação de alguém que compreendeu e explicou muito bem a importância deste desapego, o feiticeiro inglês Robert Cochrane, em uma carta para seu aprendiz, Joe Wilson:

“Por favor, não me agradeça por ajudá-lo – você também me ajudou. Descrever a Fé é como ensinar, mas se você ensinar, então um dia o aprendiz terá de romper com o professor, uma vez que a sabedoria é encontrada apenas na liberdade e ambos, o professor e o aprendiz, não são realmente livres, já que o professor está preso ao dogma para conseguir explicar – e dessa forma abdica da inspiração. A aprendiz tem que seguir o dogma para entender o professor. A sabedoria não é dogmática – e quando o aprendiz se torna sábio ele tem que romper com o professor e interpretar o dogma e a inspiração de sua alma à sua maneira. Portanto, eu explico a você o que sei – mas eu não o estou ensinando, vocês está tirando de mim aquilo de que necessita – e transmutando estas idéias para as suas próprias necessidades.”

Sobre o autor: Gabriel Meissner é Mestre de Reiki e ministra cursos na cidade de São Paulo. É também terapeuta floral, autor de artigos sobre terapias holísticas e espiritualidade e pesquisador de tradições espirituais do ocidente e do oriente. Entre em contato: gabriel.meissner@gmail.com.

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